domingo, 2 de dezembro de 2007

Mais verdade

Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade.
Porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades, diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
Carecia optar.
Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade

Em 2007 meus caprichos, ilusões e miopias me fizeram perder coisas preciosas, ou estancadas, e me tornaram tão verdadeiro quanto sou hoje, para entender que se eu conseguir observar, e só observar, e ainda assim ver a beleza intrínseca, a natureza única e própria de cada pessoa, a verdade não importa, e a quietude da aceitação, ainda que possa doer, abre caminho para a liberdade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nesse caso, a palavra mágica é Aceitação, consentimento do coração. Sem ela continuamos presos a tudo que não nos faz bem.