Eu me considero um homem inquieto.
Considero-me inquieto pelo espírito que me habita.
Todos os dias eu durmo e sigo meu sono até que o sonho venha e me diga o que precisa ser feito. Em geral é alguma coisa metafórica que eu consigo apreender e interpretar. A partir daí eu vejo o caminho a seguir. Ou o caminho a não seguir.
A minha verdade vem de dentro, não de fora. Assim o é. Durante o dia-a-dia também funciono mais ou menos assim. Sou muito intuitivo. Eu sinto, mais do que raciocino. A minha percepção é gutural. Ela atravessa a mente num vão e atinge o âmago e eu me sinto ao mesmo tempo vulnerável e ameaçador. Às vezes sinto que incomodo. Às vezes sinto que ajudo. Sei que preciso aprimorar os momentos certos de ficar calado, ainda que eu ache que a comunicação não seja quase nada verbal. Fico inquieto pela tamanha responsabilidade que isso me trás. Tenho sempre o cuidado de usar isso para ajudar aqueles que me procuram a seguirem mais conhecedores de si mesmos. Nada melhor do que isso no meu dia-a-dia de trabalho.
Se eu estou inquieto, entendo que é porque me falta seguir mais próximo do meu coração. Preciso usar a minha mente, e não me deixar dominar por ela.
Mas meu coração que tenta se libertar ficou preso, amou demais, chora, ainda que não deixe mais transparecer, se cala e segue. É o meu ser cultural, mental, que aprendeu a sentir saudade, que ainda é contra o passado.
Ultimamente eu tenho acordado e meu pensamento tem sido sempre invadido pelo passado. E eu tento resistir. Distrair-me. O som do meu carro foi uma coisa ótima para isso, mas até ele sempre me remete ao mesmo lugar comum! Eu me privo da plenitude. Um passado idealizado. Um passado que foi gostoso, bonito e prazeroso demais. Um passado que me foi presente, e que não me pode mais ser. Inflexibilidade. Impossibilidade. Um passado que me gera ressentimentos, mágoas, que me faz queixar, e que me feriu. E eu luto. Uma guerra interior. E eis que me descubro lutando comigo mesmo, contra o impossível.
Na Medicina chamam a isso de pensamento compulsivo. Na poesia chamam isso de paixão. Eu, eu chamo isso de aprisionamento.
Osho chama de larva! Chama de camelo! Eu, um peregrino da vida, sou um peregrino que quer ser livre, quer ser consciente, quer ser alegre, quer ser maduro, quer ser pleno. Tudo bem... Eu já sou corajoso e intuição é o que não me falta.
Mas agora foi interessante saber algumas coisas, ou talvez ver pelo prisma assim colocado. É preciso seguir adiante. Eu preciso assimilar o meu passado.
“O camelo é a larva, o camelo é aquele que acumula provisões. Mas se você ficar preso nesse estágio e continuar a ser um camelo para sempre, então não conhecerá as belezas e as bênçãos da vida. Continuará preso no passado. O camelo pode assimilar o passado, mas não pode aproveitá-lo.
No curso de seu desenvolvimento pessoal, chega uma hora em que o camelo tem de se tornar leão. O leão segue em frente para destituir o gigantesco monstro conhecido como “Tu não deves...”. O leão, no homem, ruge contra a autoridade.
O leão é uma reação, uma rebelião contra o camelo. O indivíduo agora descobre a sua própria luz interior como fonte suprema de todos os valores autênticos. Ele toma consciência de sua obrigação básica com relação à sua própria criatividade interior. Com o seu potencial oculto interior. Alguns poucos continuam presos ao estágio do leão: continuam rugindo até ficarem exaustos de tanto rugir.
É bom virar leão, mas a pessoa ainda tem de dar mais um salto – e esse salto é virar criança. A menos que o homem torne-se absolutamente inocente, fique livre do passado, a ponto de não ser mesmo contra ele... Lembre-se, a pessoa que ainda é contra o passado não é livre de verdade... Ele ainda tem alguns ressentimentos, algumas queixas, algumas feridas. O camelo ainda o assombra, a sombra do camelo ainda o segue. O leão está ali, mas ele ainda teme, de certa forma, o camelo; teme que ele possa voltar.
Quando o medo do camelo passa por completo, o rugido do leão cessa. Então nasce a criança.”
Isso aqui que eu transcrevi é do Osho, no seu livro Liberdade.
Eu me acho uma confusão... Transito entre camelos, leões e crianças. Mas tenho que admitir que tenho rugido insistentemente contra o meu passado recente, lamentado, e ainda que tenha seguido meu caminho, tenho gastado muita energia com isso. Tudo bem. Eu aceito que os processos devam ser proporcionais. Eu assimilo minha paixão. Ela foi muito grande. Eu faço tudo com muita paixão e vontade. O habitante dentro do meu corpo material é assim muito cheio de vida mesmo. Desobedeço ao leão e o amanso. E o que sempre predominou em mim fica cada vez mais evidente... O menino, a criança, habitante do homem livre.
domingo, 28 de outubro de 2007
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3 comentários:
Olá, você me enternece.
Já vivi situações semelhantes e sei poder vivê-las novamente se me descuidar. A caminhada é longa. Os diálogos internos já me tomaram compulsivamente até chegar a exaustão.
Para estar no presente e poder usufruir dele, iniciei uma longa peregrinação. Um aprendizado que no momento não vislumbro um fim, mas me deixa bem. Estou nele. Aprendo a superar meus "humores". Medito. Pela meditação me torno mais amorosa. Amorosa até com meus "humores", rs, quando tentam tomar conta do meu ser. Antes de meditar deixo-os bem aflorados, observo-os e me despeço deles com carinho.
Há 3 execícios que pratico dependendo do"grau de complexidade" desses humores ou seja do estado de ânimo.Dois são simples: o da gaiola e o do quadro de giz. Podem ser feitos dirigindo, na fila do cinema ou em alguma pausa entre um pensamento e outro. Podem ser transformados em um passáro preso numa gaiola, abro a porta e deixo-o voar até sumir no céu ou então escritos num quadro de giz e vagarosamente apagados.
A minha visualização predileta é a do barquinho. Essa exige mais tempo, um lugar sossegado e me deixa em estado tranqüilo. Sentada na beira de um rio, com uma natureza incrível me envolvendo, construo um barquinho de papel dobrando vagarosamente parte por parte, coloco dentro dele os diálogos que me tiram do centro, deixo-o ir naquelas águas e sigo-o com o olhar até desaparecer. A minha criança vem á tona e brinca com minha criança mimada, rs, rs.
No princípio pensei ser muito singelo tudo isso pra funcionar, mas funcionou apesar de exigir freqüência. Hoje, quando necessito, o resultado chega rapidinho.
Amorosamente, quis dividir essa experiência que contribui com minha busca de liberdade com você. Pode ser que já conheça...ou não. Se ainda não, tenho certeza do quanto sua criança pode gostar, rs. Bjus
Brisa.
Obrigado!
De nada! Brisa.
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